A Capacidade para Crer, Confiar, se Interessar II: o Holding e o Handling

Dando continuidade à temática abordada no mês de agosto: A Capacidade para Crer, Confiar, se Interessar. Eu gostaria de neste espaço escrever um pouco sobre o Holding e o Handling! Ambos consistem em dois conceitos fundamentos do pensamento de Winnicott. Os dois conceitos criados pelo autor descrevem importantes dimensões da dinâmica de cuidar e, a atenção e cuidado que os cuidadores devem ter com os seus bebês no processo de desenvolvimento primário, nos primeiros dois anos de vida. Eu não me aterei aqui ao aspecto teórico e científico da terminologia, mas à importância e significado deles na ação de cuidar do bebê.

O Holding (segurar) descreve e chama a atenção dos cuidadores para a importância da forma como eles pegam no colo, “seguram” e “sustentam” o bebê. Segundo o autor, o Holding “é bem realizado pela mãe ou substituta que identificada com o seu bebê reconhece e supre de forma satisfatória as necessidades do bebê” (Winnicott, 2001). Neste sentido, a relação mãe-bebê mediata pela identificação materna com o bebê possibilita à mãe identificar e suprir de forma suficiente as necessidades mais básicas do bebê de: fome, frio, calor, higiene, barulho, enfim, protege-lo das invasões ambientais.

Por conseguinte, neste processo de suprir as necessidade do bebê, o holding se caracteriza pela forma como o bebê é segurado pela sua mãe e, ou substituta. O segurar descreve não só a experiência física do segurar, mas uma vivência simbólica afetivo-relacional que significa a intensidade com a qual o bebê é amado, querido, desejado como filho. A sensação de ser amado se traduz num sentimento de amparo advindo de um holding satisfatório que repercutirá em todo o processo de desenvolvimento do bebê sob a égide de um sentimento de segurança.

Portanto, desde o nascimento o holding, a sustentação, o segurar confiável tem que ser uma característica essencial do cuidador identificado com o filho, cujo cuidar, nesta dimensão, é realizado sustentando o bebê de forma segura e, passando segurança para ele. Por contraste, segurar o bebê de qualquer jeito significa passar insegurança para ele e, da insegurança se depreenderá a desconfiança no ambiente.

O Handling (manipular) compreende o cuidado realizado pelo toque físico das mãos. Do toque das mãos generosas e cuidadosas da mãe e, ou cuidadores se depreende ao bebê a vivência do sentimento do próprio corpo. E permite à criança experimentar o sentimento de realidade e do real. Pois, de acordo com Winnicott: “A manipulação facilita a formação de uma parceria psicossomática na criança. Isso contribui para a formação do sentido do “real”, por oposição ao “irreal”. A manipulação deficiente trabalha contra o desenvolvimento do tônus muscular e da chamada “coordenação”, e também contra a capacidade de a criança sentir o prazer da experiência do funcionamento corporal, e de SER” (Winnicott, 2001). Neste sentido, podemos dizer que o cuidado da criança realizado pela mãe ou substituta de forma sensível, generosa e amorosa por meio do toque e da manipulação do corpo da criança faz a criança se sentir real. E, ir criando um senso de realidade e o sentimento de pertença e, ou relação com a realidade.

Portanto, não segure o seu bebê de qualquer jeito como se fosse um pacote, um embrulho. Nem o manipule, principalmente durante a troca de fraldas ou durante o banho como se estivesse tocando um objeto qualquer. Conscientize-se de que a partir do nascimento o desenvolvimento satisfatório do bebê estar condicionado a um Holding satisfatório. Significa que o “segurar”, “sustentar”, pegar o bebê no colo de forma firme, afável e segura passa ao bebê uma sensação de amparo, um sentimento de amparo e de segurança. Por sua vez, um holding realizado de forma satisfatória se traduz num suporte imprescindível para que se realize um handling satisfatório, evitando problemas psicológicos que surgem devido a falta de contato com o corpo do bebê, ou problemas psicológicos que surgem justamente do contato deficiente com o corpo do bebê.

 

Referências Bibliográficas

WINNICOTT, D. W. A Família e o Desenvolvimento Individual. Martins Fontes: São Paulo, 2001.

KLEIN, Melanie. A Psicanálise de Crianças. Imago: Rio de Janeiro, 1997.